Desinteresse pela docência: crise histórica de formação e profissionalização
- Juliana dos Santos

- 2 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Temos lido, ouvido e discutido sobre as formas de “atração e retenção” de talentos. As empresas enfrentam dificuldade na seleção e muitos/as candidatos/as buscam alinhamento entre os propósitos de suas vidas com os das organizações. Mas, e no caso dos/as docentes? Como está a situação?
Há um ano, falamos aqui sobre o estudo do Semesp que detectou um possível “apagão” de professores com déficit de 235 mil postos de trabalho na educação básica. Dentre os motivos estão:
falta de interesse dos mais jovens pelo magistério,
envelhecimento dos profissionais da categoria,
abandono precoce da carreira e
avanço do EAD com desistência de 33%.
Mas, em 2010, um outro estudo da Fundação Carlos Chagas já alertava que 70% dos estudantes de licenciatura desistiam do curso.
Se voltarmos um pouco mais no tempo, em meados da década de 1990, os cursos considerados de menor prestígio eram todos de licenciatura (DINIZ-PEREIRA, 2011).
Com dados de quase 30 anos, já constatamos que há uma forte crise na profissão docente. A sobrecarga de trabalho, a desvalorização da profissão, os baixos salários, a violência na escola, a necessidade de formação continuada e ausência de recursos próprios levam ao afastamento cada vez maior das pessoas da docência.
Nóvoa (2023, p. 3) afirma que “a profissão docente não terá futuro se não cuidar melhor dos seus professores mais jovens”. Com tantas incertezas e inseguranças, é nesse início entre a formação e começo da jornada profissional que muitos/as professores/as desistem de suas carreiras. Se já foi tão difícil atrair, reter e formar profissionais, quando ingressam no mundo do trabalho, é necessário criar identidade profissional, formar continuamente os/as professores, criar interlocução com a educação básica.
Há uma ampla necessidade de um olhar político-social para a profissão e profissionalização docente. Não há hipóteses, mas sim dados que requerem ações efetivas para minimizar os impactos da falta de força de trabalho na educação.
Referências:
DINIZ-PEREIRA, Júlio Emílio. O ovo ou a galinha: a crise da profissão docente e a aparente falta de perspectiva para a educação brasileira. R. bras. Est. pedag., Brasília, v. 92, n. 230, p. 34-51, jan./abr. 2011.
DUARTE, Alessandra; BENEVIDES, Carolina. Em crise, magistério atrai cada vez menos. Disponível em: https://extra.globo.com/noticias/brasil/em-crise-magisterio-atrai-cada-vez-menos-23970.html, publicado em 09/12/2010, acesso em 02/10/23.
G1. Brasil pode enfrentar 'apagão de professores' em 2040, diz pesquisa. Disponível em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2022/09/29/brasil-pode-enfrentar-apagao-de-professores-em-2040-diz-pesquisa.ghtml, publicado em 29/09/2022, acesso em 02/10/23.
NÓVOA, António. Jovens Professores: O Futuro Da Profissão. Rev. Int. de Form.de Professores (RIFP), Itapetininga, v. 8, e023001, p. 1-15, 2023.







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